quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Relato da segunda viagem


Capítulo 20
1    As funções dos Anjos vigias são as seguintes:
2    Uriel, um dos santos Anjos, preside ao mundo e ao tártaro;
3    Raphael, um dos santos Anjos, dirige os espíritos dos homens;
4    Raguel, um dos santos Anjos, exerce a vingança no mundo das Luzes;
5    Miguel, um dos santos Anjos, foi estabelecido sobre a parte melhor dos homens, sobre o povo de Israel e sobre o Caos;
6    Sarakael, um dos santos Anjos, foi estabelecido como o vigia dos Espíritos que induzem os outros espíritos ao pecado;
7    Gabriel, um dos santos: Anjos, preside ao Paraíso, às Serpentes e aos
Querubins;
8 Remiel, um dos santos, Anjos, foi por Deus incumbido de presidir aos ressuscitados.
Capítulo 21
1    Fui levado em frente até a região onde as coisas constituíam um caos. Lá eu vi algo de espantoso; não se via nem um céu por cima nem uma terra firme por baixo, mas tão somente um lugar desolado horrível. Lá eu vi sete Estrelas celestes, aprisionadas àquele lugar, semelhantes a grandes montanhas abrasadas de fogo.
2    Então eu perguntei: "Em nome de que pecado foram elas aprisionadas e por que foram confinadas neste lugar?"
3    Então disse-me Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo e era o meu condutor: "Enoque! Por que perguntas e por que pões tanto empenho em conhecer a Verdade? Aquelas são as Estrelas do céu que transgrediram as ordens de Deus; aqui elas permanecem aprisionadas, até que transcorram os dez mil anos, o tempo do seu pecado".
4    Dali partimos para uma outra região, ainda mais horrorosa do que a anterior. Lá eu vi coisas de causar espanto. Havia um fogo imenso lançando grandes labaredas e o seu âmbito chegava até o fundo do abismo, e era cheio de colunas de fogo que despencavam. Não consegui perceber nem avaliar a sua extensão e profundidade. Então eu exclamei: "Como é medonho este lugar e como é horroroso de se ver!"
5    Então respondeu-me Uriel, um dos santos Anjos que estava comigo, dizendo: "Enoque! Por que tanto te assustas e te espantas?" Eu disse: "E por causa deste lugar assustador e de horrível aspecto."
6    Então ele falou-me: "Este lugar é a prisão dos Anjos; aqui eles ficarão reclusos até a eternidade".
Capítulo 22
1    Dali partimos para um outro lugar, e Ele mostrou-me do lado do Ocidente um conjunto de montanhas imensas e altas, de rocha maciça. Havia lá quatro cavernas, profundas, amplas e lisas; três delas eram escuras e uma clara, tendo no centro dela uma fonte de água. Então eu disse: "Como são lisas essas cavernas! Como são profundas e escuras!"
2    Respondeu-me então Raphael, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Estas cavernas foram criadas para abrigar as almas daqueles que morreram. Foram criadas para reunir todas as almas dos filhos dos homens. Estes lugares foram constituídos para sua morada, até o dia do seu Julgamento, até o final do prazo e do tempo preestabelecidos, quando então ocorrerá sua sentença".
3    Então eu ouvi os gemidos do espírito de um dos filhos dos homens, que havia morri do, e cujos lamentos chegavam até o céu. Perguntei então ao anjo Raphael, que estava junto de mim: "De quem é este espírito que se lamenta? De quem é esta voz, cujo gemido chega até o céu?"
4    Então Ele falou-me: "Este é o espírito que saiu de Abel. Ele foi golpeado e morto por seu irmão Caim, e assim emite queixas contra ele, até que os descendentes deste sejam eliminados da terra e a sua raça desapareça dentre os homens".
5    Em seguida perguntei sobre as cavernas: "Por que estão separadas umas das outras?" Respondeu-me: "Três destes espaços foram preparados para manter segregados os espíritos dos que estão mortos; mas uma seção foi reservada para os espíritos dos justos, onde jorra uma fonte de águas límpidas.
6    "Dessa forma, há um espaço que foi preparado para os pecadores que, ao morrerem e serem enterrados, não chegaram a sofrer em vida uma sentença. Ali suas almas ficarão isoladas até o grande dia do Juízo, o dia do castigo e do sofrimento reservados aos que foram condenados para sempre, quando então se exercerá a vingança das suas almas; nesse lugar Ele os manterá aprisionados até à eternidade.
7    "Existe igualmente outra seção que se destina às almas dos queixosos, dos que reivindicam justiça por sua ruína, por terem sido mortos nos dias dos pecadores. E uma outra seção foi feita para aqueles homens que não foram justos, mas sim pecadores, totalmente ímpios e cúmplices dos perversos; suas almas não serão castigadas no dia do Juízo, mas também não serão ressuscitadas."
8    Então eu louvei ao Deus da Glória, dizendo: "Glorificado sejas Tu, Senhor, Justo Juiz do mundo".
Capítulo 23
1 Dali eu fui a um outro lugar, no Ocidente, até os confins da terra. Lá eu vi um fogo flamejante que se deslocava constantemente de cá para lá, e que não cessava o seu movimento regular nem de dia nem de noite, mas ao
contrário mantinha-se sempre igual.
2 Eu perguntei: "Que é essa coisa incansável?" Então respondeu-me Raguel, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Esse fogo ambulante, que viste no Ocidente, é o fogo que abastece todas as luminárias do céu".
Capítulo 24
1    Daquele ponto, fui a um outro lugar da terra, e Ele mostrou-me um conjunto de montanhas de fogo que ardiam dia e noite.
2    Passei por cima delas e observei sete montes magníficos, todos diferentes uns dos outros, cujas rochas eram imponentes e belas, no seu todo, de agradável aspecto e de formas bonitas. Três dos montes situavam-se do lado oriental, sobrepostos uns aos outros; três do lado Sul, também sobre-postos, e entre eles desfiladeiros íngremes e profundos, que não confinavam uns com os outros.
3    A sétima montanha situava-se entre as anteriores, superava-as em altura e era parecida com a sede de um trono; árvores odoríferas circundavam esse trono.
4    Entre essas árvores havia uma cujo perfume eu jamais havia experimentado. Nenhuma daquelas árvores, nem qualquer outra, podia comparar-se com ela. Difundia mais perfume do que todos os incensos; suas folhas, suas flores e seu lenho não fenecem nunca, e sua fruta é maravilhosa, parecida com a tâmara.
5    Eu falei então: "Como é bela esta árvore! Como são perfumadas e bonitas as suas folhas Como são deliciosas para os olhos suas flores!" Respondeu-me então Miguel, um dos santos e honrados Anjos que estavam comigo, o superior deles.
Capítulo 25
1    Ele falou-me: "Enoque! Por que perguntas e admiras o perfume desta árvore e procuras saber a Verdade?" Então eu, Enoque, respondi, dizendo: "Sobre todas as coisas eu gostaria de saber algo, e de modo muito particular sobre esta árvore".
2    Ele respondeu-me: "Aquela montanha alta que viste, e cujo cume se parece com o trono de Deus, é de fato o seu trono, sobre o qual o Santo, o Grande, o Único, o Senhor da Glória, o Rei Eterno se assentará quando descer para visitar a terra e agraciá-la com a sua bênção.
3    "Esta árvore, todavia, não poderá ser tocada por nenhum mortal até o dia do Grande Julgamento, quando Ele tomará as contas de todos até o último ceitil; então essa árvore será entregue aos justos e aos santos. Os seus frutos então servirão de alimento para os escolhidos; ela será transplantada para o lugar santo, no templo do Senhor, o Rei Eterno.
4    "Então eles se alegrarão sobremodo e caminharão com alegria pelos lugares santos; o aroma da árvore penetrará até os seus ossos. Levarão sobre a terra uma vida mais longa do que os seus Patriarcas, e nos seus dias não sofrerão nem tristezas, nem dores, nem cansaços, nem pragas."
5    Então eu louvei o Rei da Glória, o Rei da Eternidade, por ter preparado, criado e assegurado tais coisas para os justos.
Capítulo 26
1    Dali eu parti para o meio da terra e contemplei um lugar abençoado e frutífero, onde havia árvores com galhos que brotavam e floriam dos ramos podados. Lá, igualmente, eu vi uma montanha santa, e ao sopé da mesma, do lado leste, um rio que corria na direção do sul.
2    Do lado do Oriente vi ainda uma outra montanha, mais alta do que aquela, e, dividindo-se as duas, uma garganta estreita e profunda; ela era o leito do rio que nascia ao pé da montanha.
3    Do lado ocidental havia outra montanha, mais baixa do que a anterior e de porte menor; entre estas e as anteriores havia um desfiladeiro profundo; outro desfiladeiro, também profundo, e seco, abria-se no extremo da montanha.
4    Esses profundos desfiladeiros eram estreitos, de rocha dura; nenhuma árvore crescia ali. Admirei-me com as rochas;espantei-me com os desfiladeiros; e tudo aquilo maravilhou-me sobremaneira.
Capítulo 27
1    Então eu falei: "Para que serve esta terra abençoada, repleta de árvores, e para que estes desfiladeiros malditos no meio dela?"
2    Respondeu-me então Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo, e disse: "Aquela garganta maldita que viste foi destinada aos eternamente malditos; ali serão agrupados todos aqueles que, com a sua boca, proferem coisas desrespeitosas contra Deus e falam com insolência da sua Glória. Ali eles serão reunidos; será o lugar do seu Julgamento.
3    "Nos últimos dias, realizar-se-á o espetáculo de um julgamento definitivo sobre eles, na presença dos justos; ali os piedosos louvarão ao
Rei da Glória, ao Senhor da Eternidade. No dia do Julgamento dos pecadores os justos O louvarão por causa da sua misericórdia, por Ele manifestada para com eles."
4 Então eu dei graças ao Rei da Glória, proclamei a sua honra e entoei um cato de louvor a Ele.
Capítulo 28
1 Dali eu fui (na direção do Oriente) até o meio das montanhas do deserto; lá eu vi uma estepe. Era um lugar solitário, mas palmilhado de árvores e vegetação; e dos pontos altos jorrava água. Esta fluía na direção noroeste, como um rico manancial de águas e formava nuvens e orvalho que se. levantavam de todos os lados.
Capítulo 29
1 Dali eu fui para um outro lugar do deserto e aproximei-me do lado oriental daquelas montanhas. Lá eu vi plantas aromáticas que reascendiam a incenso e mirra, e elas pareciam-se com a amendoeira.
Capítulo 30
1 Então eu fui mais adiante, para o Oriente, e vi um outro sítio muito grande, com águas que se precipitavam nos despenhadeiros. Ali havia uma árvore cuja aparência era de planta aromática, semelhante à almécega. A beira daqueles vales eu vi a caneleira olorosa; então eu fui ainda mais adiante, para o leste.
Capítulo 31
1    Eu vi outras montanhas; sobre elas havia bosques de onde fluía o néctar, o chamado bálsamo ou ungüento.
2    Atrás daquelas montanhas eu vi outra, ao leste da região; sobre ela havia plantas de aloés, e todas as demais árvores gotejavam resina, semelhantemente às amendoeiras. Ao triturar-se a sua fruta, ela exalava toda sorte de olores.
Capítulo 32
1    Por sobre as montanhas ao nordeste vi sete montes cheios de nardo precioso, almécegas, nela e pimenta. Dali transportei-me por sobre os cumes de todas essas montanhas, na direção oriental da terra; passei pelo mar da Eritréia e depois, afastando-me dele, sobrevoei o Zotiel.
2    Então cheguei ao Jardim da Justiça e vi, dentre as demais plantas, muitas e grandes árvores que ali cresciam; e elas eram aromáticas, muito bonitas, altas e majestosas. Entre estas encontrava-se a Árvore da Sabedoria, de cujo fruto comem os Santos e alcançam grande sapiência.
3    Essa árvore, pela sua fronde, assemelha-se ao pinheiro; sua folhagem é parecida com a da alfarrobeira; o seu fruto é tão delicioso quanto as uvas de vinho; e o seu perfume é percebido a grande distância. Então eu exclamei: "Como é bela esta árvore e como é agradável o seu aspecto!"
4    Respondeu-me o santo Anjo Raphael, que estava comigo, e disse: "Esta é a Árvore da Sabedoria, da qual o teu antigo pai e tua antiga mãe comeram, antes do teu tempo. Com isso, eles conheceram o saber; os seus olhos se abriram e eles reconheceram que estavam nus. Então eles foram expulsos do Paraíso".
Capítulo 33
1    Dali eu fui mais em frente, até os confins da terra; lá eu vi animais de grande porte, todos diferentes uns dos outros; também pássaros que divergiam na aparência, beleza e voz, igualmente diferentes uns dos outros. Mais ao leste de onde estavam esses animais eu vi os extremos da terra, sobre os quais repousa o céu da terra; os portais do céu estavam abertos.
2    Eu vi as estrelas do céu se aproximarem, contei os portões por onde elas apareciam, anotei a saída de todas, e em relação a todas anotei especialmente o número, o nome, as conexões, as posições, os períodos e meses, tudo segundo me mostrava o Anjo Uriel, que estava comigo. Ele mostrava-me tudo, transcrevendo ao mesmo tempo; transcreveu para mim o nome de cada uma e suas leis, bem como as suas acompanhantes.
Capítulo 34
1    Dali segui na direção do norte, aos confins da terra; lá eu presenciei um grande e majestoso prodígio, nos extremos do mundo. Vi três portais celestes abertos; através de cada um deles procedem ventos do Norte. Quando sopram, vêm o frio, o granizo, a geada, a neve, o orvalho e a chuva.
2    De um dos portais eles sopram favoravelmente; quando, porém, sopram dos outros dois, é com violência. E soprando com violência eles espalham privações sobre a terra.
Capítulo 35
1 Dali tomei o rumo do Ocidente, até os confins da terra; nesse lugar vi três portões abertos, semelhantemente aos que vira no Oriente; os mesmos
portões, com suas aberturas.
Capítulo 36
1    Dali parti para o sul, até os confins da terra; lá vi três portões celestes abertos. Deles provêm os ventos do Sul, assim como orvalho e chuva. Dali fui adiante, na direção do Oriente, até os confins da terra; lá vi abertas as três portas celestes orientais; sobre elas havia portões pequenos.
2    Através de cada um desses portões menores passam as estrelas do céu que caminham para o Oriente, nos seus cursos preestabelecidos. Nesse momento, eu louvei o Senhor da Glória e a toda hora o louvo, por ter Ele criado as obras grandes, magníficas e admiráveis e por mostrar a magnitude da sua obra aos Anjos, aos Espíritos e aos homens, para que todos louvem a sua inteira Criação, ao verem a força do seu poder, possam, assim, proclamar grande obra das suas mãos glorificar o Senhor por toda eternidade.

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