A primeira visão
1 Meu filho Matusalém! Desejo agora revelar-te todas as visões que tive; descrevo-as na tua presença. Duas visões tive antes de tomar esposa, sendo uma diferente da outra. A primeira vez foi quando eu aprendia a escrever; a segunda, antes de casar-me com tua mãe. As imagens que eu vi foram espantosas. Por causa delas, levei minhas súplicas ao Senhor.
2 Havia-me deitado na casa do meu avô Mahalaleel. Então vi em visão que o céu entrava em colapso, desabava e caía sobre a terra. E quando se abateu sobre a terra vi que ela foi engolida por um grande abismo, no qual montanhas caíam sobre montanhas, colinas sobre colinas e árvores altas eram arrancadas e, rodopiando, desabavam nas profundezas.
3 Então minha boca proferiu estas palavras em alta voz: "A terra está destruída!" Nesse momento fui despertado por meu avô, em cuja casa eu estava, e que assim me falou: "Meu filho! Por que gritaste?" Contei-lhe então a visão que havia tido, e ele disse-me: "Meu filho! Tu viste algo espantoso, e o teu sonho é muito importante com relação aos segredos de todos os pecados sobre a terra; esta deverá ser arremessada no abismo e sofrer uma grande ruína.
4 "E agora, meu filho, levanta-te! Suplica ao Senhor da Glória — pois tu és crente — que salve uma parte do que está na terra e não a aniquile por completo! Meu filho! Tudo isso vem do céu e cai sobre a terra, e sobre esta então acontecerá uma grande desgraça."
5 Então eu me ergui, orei e implorei, e dei por escrito a minha oração para as gerações da terra. Agora, meu filho Matusalém, eu desejo revelar-te tudo. Saí ao ar livre. Vi o céu, o nascer do sol no Oriente e o descer da lua no Ocidente, algumas estrelas e a terra toda, e tudo quanto Ele, desde o princípio, havia firmado. Então louvei o Senhor da Justiça e exaltei-o por haver permitido que o sol nasça pela janela do Nascente, se levante pela parte exterior do céu, suba e desça, para depois de novo percorrer o seu caminho preestabelecido.
Capítulo 84
1 Então eu ergui as minhas mãos em justiça e louvei o Santo e Poderoso;
eu falava com o sopro da minha boca e com a minha língua carnal, que Deus fez para os filhos da carne humana, a fim de que pudessem falar. Sim, Ele concedeu-lhes o alento, a língua e a boca para que pudessem pronunciar palavras.
2 Louvado sejas Tu, Rei, Senhor, em tua imensa grandeza e poder, soberano de toda a criação celeste, o Rei dos reis, Deus do mundo inteiro! Teu poder permanece por toda a eternidade; e permanecem tua realeza, tua magnificência e teu império por todas as gerações. Todos os céus são para sempre o teu trono; e toda a terra é perpetuamente o escabelo dos teus pés.
3 Tudo foi por Ti criado e tudo governas; nada para Ti é impossível. A Sabedoria jamais se afasta do teu trono, nem se aparta da tua presença. Tudo sabes, tudo vês, tudo ouves. Nada para Ti é oculto, mas tudo é manifestado aos teus olhos.
4 Mas agora os Anjos do teu céu são culpados de um pecado, e a tua ira se estende a toda a carne humana, até o dia do grande Julgamento. Entretanto, Deus, Senhor, grande Rei, eu rogo e suplico, atende ao meu pedido. Permite que descendentes meus ainda permaneçam sobre a terra! Não aniquiles toda a carne humana! Não deixes a terra vazia de homens, numa destruição completa e eterna!
5 "Ouve, meu Senhor! Elimina da terra tão-somente aquela carne que provocou a tua ira! E confirma a carne da Justiça e da retidão, como o germe de uma semente duradoura! Não escondas a tua face, Senhor, diante da súplica do teu servo!
Capítulo 85
Segunda visão: de Adão até o Messias
1 Depois eu tive um outro sonho. Meu filho! Desejo explicar-te completamente esse sonho. Então Enoque principiou e disse ao seu filho Matusalém: Meu filho! Dirijo-te a palavra e digo: Escuta a minha voz e inclina os teus ouvidos para o relato da visão do teu pai!
2 Antes que eu tomasse a tua mãe Edna por esposa, estando deitado no meu leito, eu tive um sonho. Saiu um touro da terra, e ele era branco. Depois dele, saiu uma novilha, e com ela vieram dois touros, um preto e o outro vermelho. O touro preto atacou o vermelho, perseguindo-o pela terra, e por isso não pude mais vê-lo.
3 Aquele touro preto cresceu; então chegou junto dele uma novilha, e eu vi como muitos bezerros procederam dele, pareciam-se com ele e o seguiam. Aquela primeira vaca agora se afastou do primeiro touro, para procurar o touro vermelho; como não o encontrasse, emitia mugidos de dor e continuava a procurá-lo.
4 Eu olhei e vi quando aquele primeiro touro se aproximou dela e acalmou-a; a partir daquele momento ela deixou de mugir. Depois ela pariu um outro touro, branco; e depois dele produziu ainda muitos touros e vacas.
5 E eu vi no meu sonho como aquele touro branco também cresceu, tomando-se grande. Dele procederam muitos touros brancos, parecidos com ele. Eles começaram a produzir muitos touros brancos, semelhantes a eles, um após outro.
Capítulo 86
1 E mais coisas ainda eu vi durante o sono. Caiu do céu uma estrela; depois ela ergueu-se e começou a comer e a pastar entre aqueles novilhos. Depois disso, eu vi como os novilhos grandes e pretos segregaram-se com suas vacas, os seus cercados e pastagens, e começaram a viver entre si.
2 Em seguida, vi ainda outra coisa. Olhei para o céu e vi muitas outras estrelas que caíam junto daquela primeira, e transformavam-se em touros entre aquelas vacas, e com elas pastavam. Enquanto eu observava, vi como todos eles mostravam os seus membros íntimos, como os cavalos, e começavam a cobrir as fêmeas daqueles novilhos, e estas ficaram prenhes e pariram elefantes, camelos e jumentos.
3 E todos os novilhos tinham medo deles e diante deles se aterrorizavam; pois eles começaram a mordê-los, a estraçalhá-los e a agredi-los com as suas presas. Depois começaram a devorar aqueles novilhos. Então todos os filhos da terra passaram a apavorar-se, a tremer e a fugir.
Capítulo 87
1 Vi depois como eles começaram a agredir-se e a destruir-se mutuamente. Então a terra levantou um grande clamor. Depois ergui mais uma vez os olhos para o céu, e na visão observei que de lá desciam seres que eram semelhantes a homens brancos. Um deles vinha na frente e três o seguiam.
2 Esses três que vinham atrás tomaram-me pela mão e arrancaram-me do convívio das gerações humanas, levando-me a um ponto muito elevado, onde me mostraram uma torre que se elevava da terra e diante da qual todas as elevações eram inferiores. Disseram-me: "Fica aqui, para que possas ver tudo o que acontecerá com os elefantes, camelos, asnos, estrelas, novilhos e tudo o mais!"
Capítulo 88
1 Então eu vi como um daqueles quatro que chegaram amarrou as mãos e os pés da primeira estrela que caiu do céu e arremessou-a num abismo; e aquele abismo era estreito e profundo, assustador e tenebroso.
2 Um deles desembainhou sua espada e entregou-a àqueles elefantes, camelos e jumentos; estes então começaram a ferir-se uns aos outros. E por causa deles toda a terra tremia.
Capítulo 89
1 Um daqueles quatro aproximou-se do touro branco e transmitiu-lhe um segredo que fez com que o touro começasse a tremer. Havia nascido como touro, mas agora estava transformado em homem, construíra para si um grande barco e passara a morar nele; também outros três touros moravam com ele no barco, e este foi coberto com um telhado.
2 Então levantei mais uma vez os meus olhos para o céu e vi um grande telhado provido de sete calhas; e essas calhas despejavam grande quantidade de água num pátio. Observei ainda e vi como começaram a brotar vertentes naquele grande pátio, e a água principiou a subir, cobrindo a superfície; vi depois como todo o pátio ficou alagado pela água.
3 As águas, a escuridão e a névoa intensificaram-se. Observando a altura daquela inundação, vi que a água já se elevava por sobre aquele pátio, fazendo-o submergir, e estendia-se sobre a terra. E todos os animais estavam comprimidos naquele pátio, e eu vi como eles foram submersos e engolidos, perecendo naquela água.
4 Mas o barco flutuava sobre as águas, enquanto que os novilhos, os elefantes, os camelos e os jumentos, juntamente com todos os outros animais, foram ao fundo, de sorte que não mais pude vê-los. Não puderam escapar, pois afundaram e desapareceram nas profundezas.
5 Olhando de novo para a visão, vi que aquelas bicas se estancavam; os vales da terra estavam nivelados, mas outros abismos se abriam. As águas então começaram a fluir para aqueles abismos, até que a terra de novo apareceu. Mas o barco estava assentado sobre a terra; e então a escuridão começou a dissipar-se, e voltou a luz.
6 Então o touro branco, que se transformara em homem, saiu do barco, e com ele os três touros que o acompanhavam. Um deles era branco, como o primeiro, outro era vermelho como o sangue e o último era preto; e o primeiro touro branco afastou-se deles.
7 Então estes começaram a produzir animais selvagens e pássaros, e assim muitas espécies apareceram: leões, tigres, cachorros, lobos, hienas, javalis, raposas, coelhos, porcos, gaviões, milhafres, águias, corvos e abutres; entre eles veio ao mundo um touro branco. Começaram então a morder-se entre si. Mas aqueles touro branco, que dentre eles nasceu, gerou um asno selvagem e também um touro branco; e o asno selvagem multiplicou-se.
8 Mas aquele touro branco por ele gerado produziu um porco selvagem preto e um carneiro branco; o porco selvagem gerou muitos porcos, mas o carneiro produziu doze cordeiros. Quando esses cordeiros cresceram, entregaram um deles aos asnos, e esses asnos o entregaram aos lobos; e assim ele cresceu entre os lobos.
9 Então o Senhor permitiu que os doze cordeiros fossem morar junto dele, e que juntamente com ele pastassem no meio dos lobos. E eles cresceram e converteram-se em numerosos rebanhos de ovelhas. Então os lobos começaram a ter medo deles e passaram a oprimi-los, chegando finalmente a matar os seus recém-nascidos. E jogavam os seus filhotes num rio caudaloso. Então aquelas ovelhas principiaram a clamar por causa dos seus filhotes, lamentando-se junto ao seu Senhor.
10 Então um dos cordeiros, que havia sido salvo dos lobos, escapou e refugiou-se entre os asnos selvagens. E eu vi como as ovelhas se lamentavam, ela lamentava e suplicavam ao seu Senhor com todas as suas forças, até que aquele Senhor das ovelhas desceu do alto da sua morada, por causa do seu clamor, e se pôs no meio delas e as apascentou.
11 Então Ele se dirigiu àquele cordeiro que havia escapado dos lobos e falou-lhe a respeito deles, incumbindo-o de exortá-los a que não molestassem as ovelhas. Então o cordeiro, por ordem do Senhor, encaminhou-se para junto dos lobos; e outro cordeiro o acompanhava. Ambos se apresentaram na assembléia daqueles lobos, falaram com eles, exortando-os a que dali em diante não mais molestassem as ovelhas.
12 Eu vi depois que os lobos passaram a oprimir ainda mais as ovelhas, e com toda a violência, e elas gritavam. Aí o Senhor das ovelhas chegou e pos-se a castigar aqueles lobos. Estes então passaram a lamentar-se, enquanto que as ovelhas se acalmavam e cessavam imediatamente seus clamores.
13 Depois eu vi as ovelhas se afastarem de junto dos lobos; estes, porém, tinham os olhos obcecados e moveram-se com toda a rapidez na perseguição das ovelhas. E o Senhor das ovelhas as acompanhava, como seu condutor, e todas elas o seguiam. Sua face era brilhante, merática, mas de aspecto terrível.
14 E os lobos perseguiram as ovelhas até encontrá-las junto a um mar. Então o mar dividiu-se ao meio e as águas ergueram-se de um lado e de outro, diante dos seus olhos. Então o Senhor que conduzia as ovelhas colocou-as entre elas e os lobos.
15 No momento em que os lobos não viram mais as ovelhas, entraram mar a dentro em sua perseguição, correndo no seu encalço. Porém quando viram o Senhor das ovelhas, deram meia-volta, fugindo da sua face. Então
o mar fechou-se, voltando à sua forma natural; as águas cresceram e subiram, até cobrirem aqueles lobos.
16 Observei e vi como todos os lobos que perseguiam as ovelhas foram tragados e afundaram. As ovelhas, porém, escaparam das águas e chegaram a um deserto onde não havia nem água nem pastagem. Então começaram a abrir os seus olhos e a ver; e eu percebi como o Senhor das ovelhas as apascentava, provendo para elas água e capim, e como aquele cordeiro ia à frente e as conduzia.
17 Então o cordeiro subiu ao cume do alto monte, e depois o Senhor das ovelhas mandou que voltasse para junto delas. Depois disso, eu vi o Senhor das ovelhas apresentar-se diante delas, e a sua aparência era terrível e majestática; toda as ovelhas o viram e amedrontaram-se diante da sua face.
18 Todas tiveram medo e tremiam diante d'Ele. Então exclamaram junto ao cordeiro que as conduzia: "Não conseguimos resistir à presença do nosso Senhor, nem encará-lo". Então o cordeiro, seu condutor, subiu mais uma vez ao topo do rochedo. As ovelhas, porém, começaram a cegar-se e a afastar-se do caminho que ele lhes mostrara; e o cordeiro não sabia de nada.
19 Então o Senhor das ovelhas irou-se profundamente com elas. Quando
o cordeiro percebeu isso desceu do cume do rochedo, chegou junto delas e encontrou-as na sua maioria cegas e renegadas. Diante do seu semblante elas tiveram medo e tremeram, e quiseram voltar aos seus ovis.
20 Então o cordeiro levou consigo outros cordeiros, aproximou-se das ovelhas desertoras e começou a matá-las. Então as ovelhas se amedrontaram e o cordeiro conseguiu trazer de volta as desertoras aos seus apriscos. Observei aquela visão e vi o cordeiro transformar-se em homem e construir uma casa para o Senhor das ovelhas e nela introduzi-las todas.
21 Vi também quando aquele cordeiro que acompanhava o cordeiro líder adormeceu; também vi que todas as ovelhas grandes sucumbiram, e que em seu lugar se levantaram as menores. Chegaram depois a uma pastagem e aproximaram-se de uma torrente de água. A seguir, o cordeiro condutor, que se transformara em homem, separou-se delas e adormeceu. Então todas
o procuraram e levantaram um grande clamor.
22 Então eu vi que elas cessaram os seus queixumes por causa do cordeiro e transpuseram a corrente de água. Depois, seguidamente, novos cordeiros líderes passavam a ocupar o lugar dos que haviam adormecido e a conduzi-las. Vi quando as ovelhas entraram numa região boa, numa terra excelente e amável, e como elas pastavam à saciedade, e como nessa terra boa aquela casa permanecia no meio deles.
23 Por vezes os seus olhos mantinham-se vigilantes, outras vezes cegavam-se, até que se levantou um outro cordeiro para dirigi-las e reconduzi-las ao aprisco; então permaneciam abertos os seus olhos. Mas os cachorros, as raposas e os porcos do mato começaram a devorar aquelas ovelhas, até que o Senhor delas chamou do seu meio um outro carneiro, na realidade um bode, para conduzi-las.
24 Esse bode começou a atacar de ambos os lados aqueles cachorros, raposas e porcos, até matar a muitos. Mas então abriram-se os olhos do outro cordeiro, que viu como o bode renegava a sua dignidade entre as ovelhas e começava a agredi-las e a pisá-las, comportando-se desonrosamente.
25 Então o Senhor das ovelhas enviou o cordeiro e estabeleceu-o como carneiro e líder das ovelhas, no lugar daquele bode, porque este se esquecera da sua dignidade. O cordeiro foi procurá-lo e falou com ele a sós; então este erigiu-o em carneiro e constituiu-o líder e condutor das ovelhas; entretanto, os cachorros continuavam a atacar as ovelhas.
26 O bode, porém, perseguia o cordeiro, e este partiu e pos-se a salvo dele; e eu vi como aqueles cachorros levaram o bode à ruína. Então levantou-se o segundo carneiro e conduziu as ovelhas pequenas. E as ovelhas cresceram e se multiplicaram; e todos os cachorros, raposas e porcos selvagens tinham medo e fugiam. Aquele carneiro, porém, atacava e matava todos os animais predadores, e estes não tinham mais poder sobre as ovelhas e não lhes tomavam mais nada.
24 E aquele carneiro criou muitas ovelhas; depois adormeceu. Um pequeno cordeiro passou a ser carneiro em seu lugar, para liderar e conduzir aquelas ovelhas. E a casa era vasta, e foi construída para essas ovelhas; e na casa havia uma torre grande e alta, que foi construída para o Senhor das ovelhas. A casa era baixa, mas a torre alcançava grande altura, e
o Senhor das ovelhas pairava sobre ela, e preparava-se para Ele uma mesa farta.
25 Vi depois como aquelas ovelhas de novo se desencaminharam, andaram por muitos caminhos e abandonaram aquela casa. Então o Senhor das ovelhas chamou algumas delas e mandou que fossem ter com as desertoras; mas estas começaram a matá-las. Uma delas salvou-se, evadiu-se e vociferou contra as ovelhas. Estas queriam matá-la, mas o Senhor das ovelhas salvou-a da sanha delas, trouxe-a para junto de mim e deixou-a morar aqui.
26 Ainda muitas outras ovelhas Ele mandou para junto delas, para exortá-las e lamentar-se por elas. Depois eu vi que todas elas se perderam e ficaram cegas, após terem abandonado a casa do Senhor das ovelhas e sua torre. Vi como o Senhor das ovelhas permitiu o derramamento de sangue junto delas e seus rebanhos, quando elas efetivamente provocavam esse derramamento e abandonavam o seu lugar.
27 Então Ele entregou-as aos leões, tigres, lobos, hienas, raposas e todos os animais predadores e esses animais selvagens começaram a estraçalhar aquelas ovelhas. Eu vi que Ele abandonou aquela sua casa e aquela sua torre, e a todas ofereceu aos leões e a todos os animais selvagens para que as rasgassem e devorassem.
28 Então eu comecei a exclamar com todas as minhas forças e a invocar
o Senhor das ovelhas, alertando-o sobre elas, pois que estavam sendo dizimadas pelos animais selvagens. Ele, porém, não se moveu, embora tudo visse; ao contrário, alegrava-se que elas fossem dilaceradas, devoradas e rapinadas; abandonou-as à voracidade das feras e à pilhagem.
29 Então Ele chamou setenta pastores e entregou-lhes aquelas ovelhas para que as pastoreassem. Falou a eles e aos seus acompanhantes: "Cada um de vós, doravante, deverá apascentar as ovelhas, e fazer tudo o que eu vos mandar! Vo-las entregarei bem contadas e vos direi quais delas devem ser mortas. A estas havereis de matar!" Em seguida confiou-lhes as ovelhas.
30 Então Ele chamou um outro e disse-lhe: "Fica atento e observa tudo o que os pastores fizerem com essas ovelhas! Pois hão de exterminar um número maior do que eu lhes ordenei. Anota toda morte e toda transgressão que forem perpetradas pelos pastores, quantas ovelhas eliminam segundo a minha ordem e quantas por seu próprio arbítrio; escreve tudo quanto cada um deles em particular extermina!
31 "Relata-me depois tudo, segundo a conta de quantos mataram por iniciativa própria e de quantos levaram à morte, para que eu possa ter isso em mãos como testemunho contra eles e possa assim conhecer todas as suas ações. Então poderei avaliar e ver se eles cumpriram as minhas ordens ou não. Mas eles não devem saber de nada, e tu não comunicarás isso a eles, nem os advertirás. Mas escreve as mortes que cada um executa, no seu tempo, e relata-me tudo!"
32 Então eu vi como cada pastor pastoreava no seu tempo. Eles começaram a eliminar e a matar mais do que lhes fora ordenado, e abandonavam as ovelhas aos leões. E os leões e tigres devoraram a maior parte daquelas ovelhas; com eles comiam também os porcos selvagens. Depois, incendiaram a torre e demoliram a casa.
33 Então eu me entristeci profundamente por causa da torre e porque foi destruída a casa das ovelhas. A partir desse momento, não vi mais aquelas ovelhas entrando na casa. Os pastores e os seus companheiros entregaram todas as ovelhas como pasto aos animais predadores. A cada um, no seu tempo estabelecido, foi entregue um determinado número; e pelo outro foi anotado num livro quantos cada um deles deveria eliminar.
34 E todos eliminaram e mataram mais do que estava escrito. Então comecei a chorar e a lamentar-me por causa daquelas ovelhas. Assim eu vi na visão como aquele escriba anotava um por um todos os que eram mortos por aqueles pastores, dia por dia, e como ele levou e mostrou todo o livro ao Senhor das ovelhas, e como ele revelou tudo o que eles fizeram e todas quantas foram por eles dispersadas, principalmente todas quantas foram por eles levadas ao extermínio.
35 E o livro foi lido na presença do Senhor das ovelhas. Então Ele tomou
o livro das suas mãos, leu-o, selou-o e o colocou de parte. Depois eu vi os pastores apascentarem por doze horas. Então três daquelas ovelhas voltaram; chegaram, entraram e começaram a recompor os destroços da casa. Mas os porcos selvagens mantinham-nas afastadas, de sorte que nada podiam fazer.
36 Depois começaram de novo a construir, como antes, e ergueram a torre. Então voltaram a preparar de novo uma mesa na torre; todavia, todo o pão posto sobre ela era contaminado e impuro. Mas apesar de tudo isso, os olhos daquelas ovelhas estavam cegos, assim como estavam cegos os olhos dos pastores, de sorte que nada podiam ver; e foram entregues em grande quantidade aos seus pastores, para serem eliminadas, e estes as pisotearam e aniquilaram.
37 O Senhor das ovelhas permanecia calado até que todas as ovelhas foram espalhadas pelo campo e misturadas aos outros animais; e aqueles pastores não as salvaram da violência dos animais predadores. O escriba do livro transportou-o então para o alto, mostrou-o e leu-o para o Senhor das ovelhas e depois intercedeu por elas, suplicando, ao mesmo tempo em que revelava todos os atos dos pastores e testemunhava contra todos eles diante d'Ele. Então Ele tomou o livro, colocou-o de lado e afastou-se.
Capítulo 90
1 Eu vi como dessa forma pastorearam trinta e cinco pastores, e cada um cumpriu o seu tempo, como seus antecessores; depois outros acolheram, para pastoreá-las a seu tempo, cada pastor no seu período. Então na visão eu vi chegarem todas as aves do céu, águias, gaviões, milhafres e abutres; as águias, que comandavam todos os demais pássaros, começaram a comer ovelhas, arrancando seus olhos e devorando suas carnes.
2 Então as ovelhas gritaram ao verem suas carnes dilaceradas pelos pássaros. Quando eu vi isso, maldisse no meu sonho o pastor que cuidava das ovelhas. Depois eu vi como aquelas ovelhas foram devoradas pelos cachorros, pelas águias e pelos gaviões, que não deixavam nem carne, nem pele, nem tendões, até sobrar apenas o esqueleto; depois caiu ao chão
também este, e assim o número de ovelhas se reduzia a cada dia.
3 Em seguida eu vi vinte e três pastores assumirem o pastoreio, cumprindo vinte e três períodos. Depois, daquelas ovelhas brancas nasceram cordeiros, que começaram a abrir os olhos, a ver e a exortar as ovelhas. Mas, apesar de exortadas, as ovelhas não escutaram o que eles lhes diziam, pois estavam surdas além de toda medida e seus olhos estavam absolutamente apagados.
4 Depois observei na visão que corvos sobrevoavam aqueles cordeiros, agarravam-nos, despedaçavam-nos e os engoliam. Vi crescerem chifres nos cordeiros, mas os abutres os abateram. Vi depois um grande chifre crescer em uma daquelas ovelhas; então abriram-se-lhes os olhos.
5 Aquela ovelha olhava pelas demais e exortava-as; quando os carneiros viram isso, acudiram ao seu redor. Não obstante, as águias, os gaviões, os abutres e os milhafres continuavam a dilacerar as ovelhas, voavam livremente sobre elas e as devoravam. As ovelhas no entanto permaneciam inertes; somente os carneiros davam o alarme e clamavam.
6 Então aqueles abutres começaram a agredir aquela ovelha e a lutar com ela, procurando abater seu chifre; mas não o conseguiram. Então eu vi que chegavam os pastores, as águias, os gaviões e os milhafres, e gritavam aos abutres para quebrarem o chifre daquele Carneiro. Então atacaram-no e lutaram com ele; e ele pediu ajuda.
7 Eu vi quando chegou aquele homem que anotara o nome dos pastores para o Senhor das ovelhas; e ele prestou ajuda ao carneiro e mostrou-lhe tudo. Ele havia descido para auxiliá-lo. Então eu vi como o Senhor das ovelhas irou-se com eles; todos os que o viam escapavam, e diante da sua face todos ficavam impotentes.
8 Águias, gaviões, milhafres e abutres juntaram-se, trouxeram consigo todas as ovelhas do campo e tentaram quebrar o chifre do Carneiro. E eu vi como aquele homem que escreveu o livro por ordem do Senhor abriu o livro sobre o extermínio que aqueles últimos doze pastores perpetraram e mostrou ao Senhor das ovelhas que eles haviam matado muito mais do que os seus antecessores.
9 Vi como o Senhor das ovelhas chegou até eles, empunhou o bastão da sua ira e golpeou a terra, e esta fendeu-se. Então todos os animais e os pássaros do céu largaram aquelas ovelhas e desapareceram na terra, que se fechou sobre eles. E vi como foi entregue uma grande espada às ovelhas, que então partiram para atacar todos os animais do campo e matá-los. Aí fugiram delas todos os animais e os pássaros do céu.
10 Eu vi que foi erigido um trono naquela terra adorável, e o Senhor das ovelhas assentou-se sobre ele; e aquele outro homem tomou os livros selados e abriu-os na presença do Senhor das ovelhas. Então o Senhor chamou aqueles sete primeiros de branco e ordenou que trouxessem na sua presença todas aquelas estrelas, cujos membros íntimos pareciam-se com os dos cavalos, a começar pela primeira das estrelas que se afastou do caminho. Todas elas então foram trazidas à sua presença.
11 Então Ele falou com aquele homem que na sua presença escrevia, e que era um dos sete de branco, e disse-lhe: "Agarra esses setenta pastores aos quais entreguei as ovelhas! Eles de fato se encarregaram delas, mas mataram um número muito maior do que eu havia estabelecido". Em verdade, eu vi todos eles sendo acorrentados na sua presença.
12 A visão então concentrou-se antes de tudo sobre as estrelas. Elas foram julgadas e sentenciadas, e por fim encaminhadas ao lugar da condenação: Foram então lançadas num abismo cheio de fogo, labaredas e colunas ardentes. Aqueles setenta pastores foram também julgados, sentenciados e arremessados naquele tremedal de fogo.
13 Eu vi naquele dia abrir-se no meio da terra um outro abismo semelhante ao primeiro, e também cheio de fogo. Foram trazidas então aquelas ovelhas cegas; todas foram julgadas e sentenciadas e lançadas naquele tremedal, e arderam. Esse abismo encontrava-se à direita daquela Casa. Vi queimarem-se aquelas ovelhas até os seus ossos.
14 Então ergui-me para ver a antiga Casa sendo desmontada. Foram recolhidas todas as colunas, juntamente com as vigas e os ornamentos; depois tudo isso foi levado embora e colocado em um lugar ao Sul. Vi em seguida como o Senhor das ovelhas trouxe uma nova Casa, mais ampla e mais alta do que a anterior, colocando-a no lugar daquela primeira que havia sido desmontada. Todas as suas colunas eram novas, e todos os seus ornamentos também eram novos e maiores do que os da primeira velha Casa, que fora recolhida. E todas as ovelhas moraram dentro dela.
15 Depois eu vi como ficaram derreados os animais da terra e os pássaros do céu, que passaram a honrar aquelas ovelhas ainda dispersas, e a elas rogavam e ficavam atentos às suas palavras. Depois disso, aqueles três que estavam vestidos de branco e que anteriormente haviam-me transportado para o alto, tomaram-me pela mão; também o Carneiro pousou a sua mão sobre mim. Assim levaram-me para junto daquelas ovelhas e fizeram-me sentar entre elas, antes do início do Julgamento.
16 Eram brancas todas aquelas ovelhas, e sua lã, abundante e pura. Então chegaram àquela Casa todos os que foram mortos e todos os que estavam dispersos, bem como todos os animais da terra e todos os pássaros do céu, e
o Senhor das ovelhas alegrou-se em verdade, porque todos estavam bem e voltavam para sua Casa.
17 Então eu vi como eles depuseram aquela espada que fora entregue às ovelhas, trouxeram-na até sua Casa e lacraram-na na presença do Senhor. As ovelhas todas foram convidadas a entrar naquela Casa, mas esta não comportava todas elas. Todas agora tinham os olhos abertos, de sorte que enxergavam o bem, e entre elas não havia nenhuma que não visse corretamente. Eu vi que aquela casa era grande, espaçosa e bem cheia.
18 Depois disso, eu vi que chegou ao mundo um touro branco. Todos os animais do campo e todos os pássaros do céu temiam-no e a ele dirigiam súplicas o tempo todo. Eu vi que todas as suas gerações se transformaram e se converteram em touros brancos. O primeiro deles foi um novilho, que se tornou um grande touro, ornando-se a sua cabeça de chifres poderosos e pretos. Então alegrou-se o Senhor das ovelhas, alegrando-se também com todos os novilhos.
19 Eu adormeci no meio deles; ao acordar, vi tudo. Foi esta a visão que eu tive durante o sono. Ao despertar, louvei o Senhor da Justiça e entoei-lhe um hino de gratidão.
20 Então rompi num choro alto, e minhas lágrimas não se estancaram até sentir-me exausto. Voltando a considerar a visão, elas tornavam a rolar por causa daquilo que eu vi. Pois tudo isso acontecerá e se cumprirá. Toda a série das ações humanas foram-me reveladas. Naquela noite lembrei-me do meu primeiro sonho. Também por ele chorei e senti-me abalado, tendo sido espectador de tal visão.
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